Por marcozero Compartilhe Compartilhe Viagem Milongas preservam autenticidade do tango portenho 1329 visualizações0 Era uma segunda-feira, por volta das seis e meia da noite, quando, após certa dificuldade, o taxista estacionou o carro em frente ao que parecia ser um restaurante fechado. — É aqui? — perguntei. — Não sei, senhor! Este é o endereço que me pediu para trazê-lo — respondeu o motorista, num tom no limite entre a impaciência e a polidez, com o sotaque carregado de sons de “CHs” (ou “X”). Era sim. Ainda que tímida, escrita em letras em estilo manuscrito, a placa não deixava dúvida: “Club Grisel – Tango”, uma das milongas mais tradicionais de Buenos Aires. Assim que desci do carro, acompanhei uma senhorinha se aproximar pela calçada, usando um elegante vestido de gala, mas calçando uma “rasteirinha”. Em frente à porta, sem cerimônia, tirou da bolsa um imponente sapato de salto alto, fez a troca e, exuberante, entrou na casa de dança. Tango tradicional Quando um turista quer assistir um espetáculo de tango em Buenos Aires, vai a lugares consagrados como o Café Tortoni ou Señor Tango. Quando o portenho quer dançar tango, vai a uma milonga. Dentro do Club Grisel percebe-se as diferenças entre um clube tradicional e uma casa temática feita para turistas. A milonga tem um salão amplo, com um enorme tablado, onde elegantes senhoras e senhores bailam como se flutuassem, ao som de músicas cuja qualidade do som evidenciam serem bem antigas —som de gramofone, barulho de agulha no vinil, um leve chiado. Milongueiros habituais Era uma segunda-feira qualquer e, portanto, achei natural o lugar com aproximadamente meia centena de mesas estivesse vazio — apenas umas cinco ou seis estavam ocupadas. Engano. Em pouco mais de 20 minutos, como se todas tivessem coreografado, as pessoas foram chegando e ocupando as mesas e o tablado. Antes das sete e meia da noite, a milonga estava pegado fogo! Percebendo que eu era uma figura completamente estranha ao ambiente, um senhor alto, elegante, sorriso largo e voz potente se aproximou: Héctor Chidíchimo, dançarino, milongueiro, uma pessoa cuja história está intimamente ligada ao tango. Um verdadeiro Senhor Tango Conversa fácil, palavras bem pronunciadas como se quisesse dar dramaticidade a cada sílaba, me contou um pouco de sua trajetória —filho e sobrinho de músicos, ele cresceu ouvindo os mais tradicionais tangos, que o transportavam “para outra dimensão”. Chidíchimo também fala com orgulho de sua milonga e a razão do nome: “Grisel” é um tradicional tango composto por Mariano Mores e letra de José María Contursi, que conta uma história de amor, “uma novela de amor real”, diz Chidíchimo. Portanto, esqueça o “Por uma cabeza” (que se tornou ainda mais popular com o filme “Perfume de Mulher” e a cena do cego dançante interpretado por Al Pacino). A conversa é interrompida várias vezes por pessoas que fazem questão de cumprimentar este verdadeiro Senhor Tango (muitos beijos, abraços apertados, palavras de carinho), que atende todos com muito carinho. Encerrado o papo, acompanho Chidíchimo navegar pelo salão, praticamente de mesa em mesa, para animadas conversas. Até que, começa a tocar uma tema mais dramático. Elegantemente, ele estende a mão a uma bela mulher, a conduz a centro do tablado e os dois passam a bailar. Ah! Grisel… Compartilhe
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