pobreza menstrual
Desenvolvimento

Pobreza menstrual é mais um dos sintomas da desigualdade social

Mulheres que não tem condições financeiras de comprar absorventes íntimos e, no lugar deles, utilizam miolos de pão ou folhas de jornal para estancar o sangramento ocorrido durante a menstruação.

Uma situação muitas vezes esquecida pela maioria da sociedade, a pobreza menstrual afeta as mulheres com menos recursos financeiros e, além da humilhação, pode trazer sérios danos à saúde.

A pobreza menstrual é a falta de condições materiais durante o período da menstruação, que passa pela situação financeira, falta de acesso a serviços de saneamento básico e informações educativas.

A pobreza menstrual atinge pessoas em situação de pobreza e vulnerabilidade, como moradoras de rua e mulheres presas em cadeias e presídios.

A pobreza menstrual também provoca a evasão escolas de adolescentes, pois muitas deixar de ir para a escola durante o ciclo menstrual por sentirem vergonha. Isso faz com que também tenham a saúde mental prejudicada, pois abala a auto-estima e o sentimento de pertencimento, por exemplo.

Pobreza menstrual é um problema global

A ONU descreve a pobreza menstrual como um problema de saúde pública e de direitos humanos.

Globalmente, cerca de 500 milhões de pessoas que menstruam não têm acesso a produtos menstruais e instalações de higiene.

Um levantamento feio pelo Instituto de Pesquisa Locomotiva, em conjunto com a marca de absorvente Always, aponta que 52% das mulheres no Brasil já sofreram com pobreza menstrual e 35% afirmam que a compra de itens de higiene pessoal pesa na renda.

O que é pobreza menstrual?

A pobreza menstrual refere-se às barreiras sociais, econômicas, políticas e culturais aos produtos menstruais, educação e saneamento.

Embora a pobreza menstrual seja um problema generalizado, há uma falta de pesquisa sobre o assunto. Em 2019, especialistas de instituições acadêmicas, ONGs, governos, organizações da ONU como a Unicef e de outros lugares se uniram para formar o Coletivo Menstrual Global para resolver esse problema.

O Global Menstrual Collective define a saúde menstrual como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade, em relação ao ciclo menstrual”. Ele observa que as pessoas devem ter:

–  Acesso a informações sobre menstruação, mudanças de vida e práticas de higiene

– Capacidade de cuidar de si mesmas durante a menstruação

– Acesso a serviços de água, saneamento e higiene

– Capacidade de receber um diagnóstico para distúrbios do ciclo menstrual e acesso aos cuidados de saúde

– Ambiente positivo e favorável para tomar decisões informadas

– Capacidade de participar de todos os aspectos da vida, como ir ao trabalho e à escola

Como a pobreza menstrual afeta as pessoas

A pobreza menstrual pode afetar as pessoas de várias maneiras. Isso pode deixá-las constrangidas ou envergonhadas por causa da menstruação e faz com que as jovens faltem à escola devido à falta de produtos menstruais.

Pobreza menstrual, saúde mental e bem-estar

Ser incapaz de administrar sua menstruação com os produtos menstruais apropriados pode fazer com que as pessoas se sintam chateadas, angustiadas e desconfortáveis. A pesquisa descobriu que a falta de acesso a esses produtos pode afetar negativamente a saúde mental de alguém.

Um estudo de mulheres que frequentam a faculdade descobriu que 68,1% dos participantes que experimentaram pobreza no período apresentavam sintomas de depressão moderada a grave. Eles também tiveram taxas mais altas de depressão do que os participantes que não experimentaram a pobreza do período.

No entanto, é importante observar que, em populações com alta desigualdade de renda, ter baixa renda está associado a taxas mais altas de depressão. Muitas pessoas que vivem em período de pobreza também se enquadram nesse grupo. Portanto, embora as pessoas que não têm acesso a produtos menstruais possam ter taxas mais altas de depressão, não é possível concluir que a pobreza menstrual cause diretamente a depressão.

Saúde e higiene

Pessoas incapazes de acessar produtos menstruais relataram o uso de trapos, papel higiênico e fraldas infantis. Algumas pessoas também usaram os produtos menstruais que tinham por mais tempo do que o pretendido.

O uso desses produtos alternativos coloca os indivíduos em maior risco de infecções urogenitais, que são infecções dos sistemas urinário e genital. Essas infecções incluem infecções do trato urinário e vaginose bacteriana.

Usar produtos por mais tempo do que o pretendido também pode ser perigoso. Deixar um tampão por muito tempo pode aumentar o risco de uma pessoa ter síndrome do choque tóxico, uma infecção rara, mas perigosa.

Trabalho

A pobreza menstrual pode impedir que as pessoas participem da força de trabalho, o que pode ter implicações econômicas significativas para elas e suas famílias.

Um estudo em Bangladesh mostrou que 73% das mulheres faltam ao trabalho em média 6 dias por mês. No entanto, quando o projeto HER entregou absorventes higiênicos e implementou uma intervenção baseada no trabalho para mudança de comportamento, o absenteísmo caiu.

Educação

As pessoas que menstruam podem ter uma experiência negativa na escola ou faculdade se estiverem desconfortáveis, distraídas ou incapazes de participar devido ao vazamento e odor menstrual.

Essa experiência pode ter consequências a longo prazo. A baixa frequência escolar afeta o potencial de ganhos futuros, a auto-estima, os resultados de saúde e o senso de controle de uma pessoa.

Pobreza menstrual e estigma da menstruação

A questão da pobreza menstrual está envolta em estigma. Embora a pobreza menstrual seja uma crise global de saúde pública, a vergonha em torno da menstruação significa que ela não é abordada.

Muitas culturas veem a menstruação como algo sujo e que as pessoas devem esconder. Os ativistas querem mudar o foco para o fato de que menstruar é biologicamente normal e saudável.

A vergonha associada à menstruação impede que as pessoas falem sobre ela. Isso leva a uma falta de diálogo sobre o acesso aos produtos para menstruação, o imposto sobre esses produtos.

Governador veta projeto de combate à pobreza menstrual

No Brasil, O governador de São Paulo (o mais populoso do país), Tarcísio de Freitas, vetou um projeto de lei que previa a distribuição de absorventes gratuitos em escolas, presídios e para pessoas em situação de vulnerabilidade no estado de São Paulo.

O projeto ‘Menstruação sem Tabu’ tem o objetivo de criar políticas de prevenção e combate à pobreza menstrual no estado de São Paulo, conscientizar a população e oferecer absorventes higiênicos para a redução da desigualdade social.

A proposta também prevê a realização de palestras nas escolas que abordem a menstruação como um processo natural do corpo feminino, com vistas a evitar e combater a evasão escolar; ações entre órgãos públicos, sociedade civil e iniciativa privada que visem ao desenvolvimento do pensamento livre de preconceito em torno da menstruação, e elaboração e distribuição de cartilhas e folhetos explicativos que abordem o tema menstruação sem tabu para desmistificar a questão e combater o preconceito.

Ao vetar o projeto, o governador justificou que São Paulo tem “sólida política pública estadual referente à superação da pobreza menstrual, que inclui o acesso aos insumos necessários, como absorventes higiênicos, assim como às informações sobre o ciclo menstrual”.

Segundo Tarcísio, o governo “tem adotado medidas concretas para alcançar os objetivos da proposta, independentemente de lei específica sobre o tema”.

As parlamentares que apresentaram o projeto protestaram: “É um triste retrocesso o governo de São Paulo vetar um projeto tão importante na vida de meninas e mulheres, que foi construído por deputadas da ALESP de diferentes partidos. O PL buscava acesso a absorventes higiênicos não só em lugares públicos, mas onde realmente precisam estar. A falta de informação e de recursos para enfrentar a menstruação pode causar traumas e constrangimentos desnecessários, e é por isso que esse projeto era tão essencial. Sinto muito que o Tarcísio tenha vetado”, disse a deputada Marina Helou (Rede).

“A falta de recursos financeiros para comprar absorventes faz com que muitas meninas deixem de frequentar as escolas. O tabu e o preconceito sobre a menstruação provocam um impacto muito grande na vida dessas mulheres”, comentou a deputada Delegada Graciela, autora da proposta, que foi subscrita por parlamentares de diversos partidos: Delegada Graciela, Janaina Paschoal , Beth Sahão, Edna Macedo , Leci Brandão , Marina Helou , Patrícia Gama.

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