salto de para-quedas em Boituva Por marcozero Compartilhe Compartilhe Experiências Salto no vazio, cheio de alegria 1199 visualizações0 Boituva, cidade a 100 quilômetros da capital paulista, é considerado o melhor local para o paraquedismo em toda a América do Sul. A porta abriu e entraram uma luz, um vento e um barulho muito fortes. Os dois que estavam mais próximos a ela não demoraram e caíram fora. O sujeito que estava atrás de mim deu um tapa no meu ombro direito e disse: “Vambora!” Foi sentindo a pele e os músculos da face tremer que caiu a ficha. Lembrei que estava preso a um cara de sobrenome Azambuja por apenas quatro pequenos ganchos e prestes a pular no vazio, a 12 mil pés (cerca de 3,6 mil metros) de altitude. Lembrei do personagem de Chico Anysio de mesmo nome, um malandro de voz rouca cujas picaretagens invariavelmente davam errado, e desejei que as semelhanças se limitassem ao nome. Não deu tempo para mais nada. Mergulhamos de cabeça. Achei que ia sentir frio na barriga, o que acontece em montanhas russas devido à movimentação das vísceras. Nada disso. O que se sente é o vento e o barulho. E uma indescritível euforia. Queda livre a 200 km/h Queda livre, durante 45 segundos, a 200 quilômetros por hora. Pareceu ter passado apenas 10 segundos quando o experiente (13 anos de prática e 2,5 mil saltos) e tranquilo Érico Azambuja puxou a cordinha e o para-quedas se abriu. Um leve tranco para cima – na verdade, a interrupção abrupta da queda- e, enfim, o silêncio. Abaixo, aquele cenário que se vê da janelinha do avião, mas de outra perspectiva. Uma espécie de camarote a, literalmente, céu aberto. Mais cerca de 4 minutos e os pés voltam ao chão. A experiência inesquecível para quem salta pela primeira vez já é uma rotina em Boituva, cidade a 100 quilômetros da capital paulista que é considerada o melhor local para o paraquedismo em toda a América do Sul. Recebe desde pessoas que querem apenas saltar uma só vez até aqueles que veem na modalidade a solução para satisfazer a necessidade de saborear altas doses de adrenalina. Sob as graças de São Pedro A história do paraquedismo em Boituva começou com a construção da Rodovia Castelo Branco. A pista, que hoje é usada pelos aviões que transportam os atletas, era utilizada pelos engenheiros, durante a construção da estrada. Mas foram as condições geográficas e meteorológicas da região que atraíram os praticantes da modalidade. Primeiro, porque não há montanhas ou qualquer acidente geográfico que atrapalhe as manobras dos aviões ou dos paraquedistas. Segundo, venta pouco, o que favorece os saltos. Terceiro, e o mais importante: chove pouco, muito pouco em Boituva. Por ano, são cerca de 300 dias com boas condições para o salto. “Pode estar a maior chuva em São Paulo, mas a pessoa pega a estrada e quando chega aqui está o maior sol. Parece que São Pedro fez um buraco no céu aqui”, explica Eslin Saldanha, um dos responsáveis pela Fly Factory, uma das escolas do Centro Nacional de Paraquedismo. Hoje, Boituva possui uma excelente infraestrutura para a prática da modalidade. Há nada menos que 17 escolas de paraquedismo, além de restaurante e hotel. A cidade sedia os principais campeonatos da modalidade, atraindo praticantes de várias partes do país e até do exterior. No Centro de Paraquedismo de Boituva, os atletas são transportados por uma empresa, a Vera Cruz Táxi Aéreo, que oferece quatro aeronaves Cessna, modelo Caravan, adaptadas para a modalidade: sem bancos, e com uma porta corrediça. Iniciantes e pós-graduados Em Boituva, pode-se desde fazer um “mero” salto duplo, que exige apenas um rápido treinamento em terra, até o curso completo, que habilita o praticante a saltar sozinho em qualquer parte do mundo. Para os realmente apaixonados, há o freefly, o estágio mais avançado (e ousado) do paraquedismo, em que o praticante realiza diversas manobras em queda livre. A Fly Factory é uma escola especializada em saltos com maior grau de dificuldade. “É uma ilha dentro do Centro Nacional de Paraquedismo. Somos uma exceção à regra. Em vez do salto de barriga, fazemos o salto vertical. A Fly Factory é a pós-graduação do paraquedismo”, explica Eslin Saldanha, que, em 10 anos de atividade, já realizou cerca de 4 mil saltos -1 mil deles apenas no ano passado. Na verdade, a escola é um ponto de encontro de amigos cujo interesse comum é praticar e evoluir nas manobras radicais. “Todo mundo aqui tem outra ocupação. Há advogado, empresário, analista de sistemas. Queremos aperfeiçoar as técnicas e conquistar cada vez mais pessoas”, completa. Todas as coreografias feitas em queda livre são planejadas em terra firme. No solo, fazem os briefing, realizando os movimentos que vão fazer em queda livre. No ar, os atletas gravam os saltos em vídeo e o exibem tão logo chegam em terra, para aperfeiçoar os movimentos. “De salto para salto, sempre colocamos um grau de dificuldade a mais, mas nunca deixando de observar os pontos de segurança. Uma manobra mal- sucedida pode ser fatal”. Em queda livre, um para-quedista atinge uma velocidade vertical de até 250 km/h e horizontal de até 90 km/h, pois o atleta não se desloca apenas para baixo, mas também para os lados. A colisão de um paraquedista com outro pode ser equivalente a um choque frontal de um carro a 180 km/h. Mais seguro que montanha russa Responda rápido. O que você ouve falar com mais frequência: acidente em brinquedo de parque de diversões ou com para-quedista? As estatísticas indicam que acidentes em queda livre são raríssimos e a grande maioria é causada por falta de habilidade técnica do praticante, e não do equipamento. Em cada salto, o praticante leva dois paraquedas. Há um dispositivo de acionamento automático do equipamento, caso o atleta desmaie ou aconteça outro fato que o impeça de fazer o acionamento manual.O altímetro, na verdade, é um barômetro, isto é, um equipamento que mede a pressão atmosférica. “Se ele medir uma variação de pressão muito grande, em um curto intervalo de tempo, significa que o equipamento não foi aberto na altura correta. Então, haverá a abertura automática”, informa Saldanha. Outro aspecto fundamental é a dobragem do paraquedas. Cada atleta deve saber dobrar o seu, mas há profissionais especializados nesta prática. Um dos mais hábeis é Alcídio Lima de Souza, que há 15 anos dobra paraquedas. Perdeu as contas de quantos equipamentos já preparou. Chegou a dobrar 80 (!) em um só dia.Enquanto conversa, dobra mais um, com a desenvoltura e tranquilidade de quem está fechando os botões de uma camisa. “Para quem está de fora, é um bicho de sete cabeças, mas é tranquilo”, garante. No começo, não era bem assim. “Eu ficava preocupado. Enquanto eu não via o cara chegar ao chão, o coração ficava a mil”, lembra. O instrutor Érico Azambuja, que tem mais 2.500 saltos no currículo, considera que o para-quedismo evoluiu muito, principalmente em segurança. “Vinte anos atrás, o paraquedas ia para onde o vento levasse. Hoje, pousamos onde bem entendemos”, diz Érico, que começou na modalidade como dobrador de paraquedas, levado pelo primo. “Depois de pegar o jeito, eu dobrava um paraquedas de olhos vendados, em menos de cinco minutos”. Hoje, Érico faz cerca de 20 saltos por fim de semana. Benefícios em terra firme A prática do paraquedismo proporciona diversos benefícios em terra firme, garantem os apaixonados pela modalidade. O advogado Claudio Knippel, que salta há 12 anos (foram cerca de 7 mil), explica que, antes, gostava de pilotar motos em alta velocidade,mas hoje prefere o salto. “Há pessoas que sentem necessidade de experimentar altas doses de adrenalina e aí praticavam atividades de alto risco, como dirigir motos em alta velocidade ou participar de rachas. Com o paraquedismo, elas conseguem ter a mesma carga de emoção, mas sem riscos”, explica o empresário Eslin Saldanha, que trocou a paixão pela velocidade em carros e motos pelos saltos em queda livre. Ele explica que os fundamentos da modalidade também podem utilizados nas atividades cotidianas. “O paraquedismo ajuda a pessoa a ser mais arrojada, dentro dos parâmetros de segurança, para inovar, crescer profissionalmente. Ela fica com mais facilidade de calcular e enfrentar riscos, desenvolve a disciplina e o planejamento”. Para praticar Qualquer um pode realizar um salto duplo. Para isso, basta assinar uma declaração de que está em boas condições físicas, ciente que a atividade oferece riscos e exime a empresa de qualquer responsabilidade caso ocorra algum acidente. Assustador, né? Mas basta uma visita às instalações para perceber que o local prima pela organização e profissionalismo. Para quem quer ser um para-quedista credenciado, e poder saltar sozinho em qualquer lugar do mundo, é preciso fazer um curso. Na primeira parte, o aluno recebe aulas teóricas de 10 horas, nas quais aprenderá sobre o equipamento e conceitos como navegação, queda livre e aerodinâmica, além de procedimentos de emergências. Na parte prática, o aluno deve realizar oito saltos, nos primeiros, acompanhado por dois instrutores, nos quatro seguintes por apenas um e, no último, sozinho. Depois, o praticante pode se aperfeiçoar em cursos de níveis intermediários e avançados. Serviço:Fly Factory – www.flyfactory.com.br – Tel. (15) 3363-1767.Skydiveboituva– www.skydiveboituva.com.br – Tel. (15) 3263-5202. Compartilhe
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