Flor do Mururé
Comportamento

Grupo de carimbó aborda tema atual inspirado em lenda amazônica

A lenda amazônica “Flor de Mururé” é a inspiração do primeiro videoclipe do grupo paraense Carimbó Cobra Venenosa, que foi lançado em 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Em formato de curta-metragem, o videoclipe aborda, de maneira sensível e extremamente criativa, um tema bastante atual e importante, que é a violência contra minorias.

Repassada de forma oral entre gerações na região do Afuá (Ilha do Marajó), a lenda da “Flor de Mururé” conta a história de um menino, que saiu vestido de menina, foi agredido e teve seu corpo jogado nas águas dos rios da Amazônia. Ao submergir, voltou em forma da flor de mururé, uma planta aquática com características femininas e masculinas, de origem amazônica, muito comum na região do Afuá.

CONFIRA O VIDEOCLIPE:

“A obra é uma ode à beleza, às encantarias e ao poder feminino amazônico e, por isso, foi lançada no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher”, diz Marcos Corrêa, que assina a direção do curta-metragem, em conjunto com Priscila Duque.

Gabriela Luz

O videoclipe tem como como protagonista Gabriela Luz, atriz e travesti, que realizou, com a gravação de “Flor de Mururé”, seu primeiro trabalho após a transição de gênero. A trama, permeada pelo afrofuturismo amazônico, mistura elementos documentais e ficcionais com pitadas de surrealidade. O vídeo traz também, como personagens, as Orixás femininas Iansã, Oxum e Iemanjá.

A feminilidade amazônica está presente na obra com a reunião de mulheres cis e trans cantando, juntas, pelo fim do machismo e dos crimes de LGBTIfobia. Participam ainda artistas da cena cultural independente de Belém, donas de casa, travestis, crianças, homens cis e trans, os quais, juntos, mostram que a luta por uma sociedade menos violenta é uma bandeira que precisa ser levantada por todos.

As gravações aconteceram em Icoaraci e Outeiro, periferia da Região Metropolitana de Belém. A produção, realizada pela Psica Produções, reuniu uma equipe majoritariamente feminina, LGBTQIA+, preta e periférica.

“O mais valioso no processo do clipe é a questão da periferia como potência. É a reunião de pessoas de diferentes idades e gêneros na equipe e no elenco. Foi uma escolha política ter pessoas desse universo, ninguém foi levado para gravar em Icoaraci e Outeiro”, explica o co-diretor Marcos Corrêa.

“Quando você coloca no Google ‘Icoaraci’, o que mais aparece são os crimes e as violências. A gente quer mostrar que nesses lugares também tem belezas: nas imagens, na praia, na natureza, mas também nas pessoas. No sorriso de uma mulher cozinhando maniçoba no quintal da sua casa, de crianças brincando. Isso é extremamente potente: mostrar o olhar dessas pessoas periféricas, exibindo a sua beleza para o mundo”, conclui.

Flor de Mururé
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A música “Flor de Mururé” foi criada a partir da história contada por ancestrais de Naraguassu Pureza da Costa. A composição é assinada não só por Naraguassu Pureza da Costa, mas também por Luana Peixe, Lana Beatriz Lima, Luah Sampaio Nogueira, Erika Mayane Bonifácio Ramos, Dandara Nobre de Oliveira Nascimento, Eduarda Gama Canto (fundadoras do coletivo Vacas Profanas). Com os ritmos lundu e carimbó, a música faz parte do repertório do Carimbó Cobra Venenosa desde que foi criado, em 2016, e está presente no seu primeiro álbum, homônimo, lançado em 2020. Para o clipe, ganhou uma nova roupagem.

“É mais que uma música, é um mantra de força, uma oração encantada que conecta as pessoas à questão de gênero. Os versos se desenhando em ritmo movimentam o corpo e nos estimulam uma sensação de liberdade, experimentada na cadência do lundu e do carimbó. Sentimos os tambores. Sentimos a presença da mata. Das águas. Sentimos a força dos encantados, das entidades, dos orixás, ao mesmo tempo que vibramos em uma contemporaneidade que experimentou anos de ocupações, ações coletivas, artivismo, performances e rodas em celebrações e protestos”, descreve Priscila Duque, co-diretora do clipe e líder do Carimbó Cobra Venenosa .

“Flor de Mururé” é mais que uma música. É mais do que uma lenda da tradição oral de uma família da região amazônica. É a narrativa de existências e resistências reais, mas com os sonhos alimentados com fantasia.

Grupo paraense do tradicional carimbó pau & corda mistura elementos documentais e ficcionais, com pitadas de surrealidade, fazendo uma ode ao afrofuturismo amazônico.

FICHA TÉCNICA

MÚSICA

Priscila Duque: Voz e Maracas

Yago Dias: Banjo

Héron Rodrigues: Percussão & Efeitos

Raíra Maciel: Percussão

Reebs Carneiro: Flauta

Hugo Nascimento (Ugô): Saxofone

Gravação, Mixagem e Masterização: StúdioZ por Thiago Albuquerque

CLIPE

Realização: Psica Produções

Direção: Marcos Corrêa

Direção: Priscila Duque

Direção de Fotografia: Cris Salgado e Hugo Chaves

Figurino: Labô Young, Maurício Franco, Roberta Mártires e Cris Salgado. 

Maquiagem: Shayra Brotero

Designer: Mila Fraga

Montagem, finalização e Colorização: Cris Motta

Animação de Artes Digitais: Yan di Maria

Colagens Digitais: Moara Tupinambá

Drone e vídeo dos créditos: Walber Castelo

1ª Assistência de direção: Bárbara Von Paumgartten

2ª Assistência de direção: Mariana Mikaely Corrêa

Paisagem Sonora e Desenho de Som: Rafael Café

Protagonista e roteirista: Gabriela Luz

Consulta de roteiro: Greice Costa

Elenco: Dama das Chamas Circenses (Eli Pinheiro), mãe de santo Rosa de Luyara, Anastacia Marshelly, Shayra Brotero, Carmo Coutinho, Adelaide Oliveira, Maria do Socorro Rodrigues Duque, Astrum Zion, Maria José, Michely Corrêa, Zaira Maciel.

SOBRE CARIMBÓ COBRA VENENOSA

Criado no distrito de Icoaraci, território de efervescência do ritmo no Estado do Pará, o grupo Carimbó Cobra Venenosa tem atuado desde 2016 ocupando palcos diversos, desde ruas, praças, transportes coletivos, atos políticos e saraus. Com letras-manifesto, oferece ao público músicas com críticas a formas de opressão e mergulhadas em questionamentos sociais. Com o slogan “música além dos ouvidos”, traz como conceito transformar o mundo por meio da arte e levantar questionamentos contra formas de opressão, machismo e TransLGBIfobia. Carimbó Cobra Venenosa foi idealizado por Priscila Duque, cantora, compositora e produtora e, na época, Hugo Caetano, que já foi cantor e compositor do grupo. Já no protagonismo dos vocais, sendo feminino e assumido por Priscila Duque, e o tambor tocado por Raíra Maciel, traz a postura em que acredita ter na arte uma força transformadora retratando a realidade de um carimbó urbano, nascido na periferia da Amazônia. O grupo visa disseminar uma vertente mais tradicional do carimbó, pau & corda, sem utilização de guitarra, baterias ou instrumentos e batidas eletrônicas. É uma musicalidade que envolve os saberes tradicionais e seus mestres, aliando o tradicional ao moderno e com raízes na cultura negra, de resistência periférica. O Carimbó Cobra Venenosa traz ainda o apelo à preservação e conservação ambiental. E não só no discurso, também em ações como na utilização de instrumentos musicais fabricados por mestres de carimbó e feitos a partir da reciclagem e reaproveitamento de materiais como tubos de PVC, capacetes de moto, dentre outros.

Em 2018, contemplado pelo VI Prêmio Proex de Arte e Cultura da Universidade Federal do Pará, o grupo gravou seu primeiro disco, homônimo, Carimbó Cobra Venenosa, lançado nas principais plataformas digitais em janeiro de 2020 e coleciona inúmeras apresentações em municípios do estado do Pará. Também teve apresentações em cidades como Manaus, Salvador, Porto Seguro, Paraty e Rio de Janeiro.

https://www.deezer.com/br/album/127207092

https://www.instagram.com/carimbocobravenenosa/

INTEGRANTES

Priscila Duque – Voz e Maracas

Yago Dias – Banjo

Héron Rodrigues – Percussão & Efeitos

Raíra Maciel – Percussão

Reebs Carneiro – Flauta

Hugo Nascimento (Ugô) – Saxofone

SOBRE PSICA PRODUÇÕES

Surgiu como uma alternativa cultural para a cidade de Belém, sintetizando em sua identidade, linguagem e curadoria a forma que a periferia de Belém consome e produz arte. Assim a Psica consegue reunir os mais diversificados estilos musicais tradicionais e contemporâneos, regionais e universais de forma bastante harmoniosa. A mistura de diferentes estilos com base na pluralidade musical das periferias está presente desde a primeira edição do Festival Psica, concebido pela produtora, sendo essa a sua principal característica, atraindo a atenção e a admiração do público a cada edição.

https://www.instagram.com/psicaproducoes/

SOBRE MARCOS CORRÊA

Produtor e diretor audiovisual. Já atuou na produção de programas de TV, curtas-metragens de ficção, videoclipes, documentários, produções para mídias sociais e transmissões ao vivo. Estreia como diretor de videoclipe com o lançamento de “Flor de Mururé”.

https://www.instagram.com/marrcorrea/

SOBRE PRISCILA DUQUE

Mulher negra e periférica, que se define como #PretÍndia ou Cobra Naja, é a liderança do grupo Carimbó Cobra Venenosa. Cantora, compositora, produtora e assessora do grupo nascido no Distrito de Icoaraci – território de efervescência cultural, localizado em Belém do Pará.

https://www.instagram.com/prisciladuquemultividas/

SOBRE GABRIELA LUZ

Travesti amazônida, periférica, Umbandista, atriz, performer drag, artivista e cooarticuladora do movimento artístico e cultural de Themonias. Pesquisadora em artes, gênero e sexualidade, professora de artes, inglês e inteligência emocional.

https://www.instagram.com/kredoqdelicia/

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