Por marcozero Compartilhe Compartilhe Comportamento É possível trabalhar com prazer e não apenas para pagar as contas? 1160 visualizações0 ‘Diminua as contas a pagar. Aí, faça o que lhe dá prazer’ Formado em Direito pela USP, mestre pela Universidade de Sorbonne e doutor livre-docente da Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP), Clóvis de Barros Filho costuma entusiasmar suas plateias não apenas com o vigor de suas reflexões, mas pela postura dramática (cômica, até) e a facilidade de passear por temas complexos como ética. Nesta entrevista, ele fala sobre a necessidade de se assumir as rédeas da própria vida e como conciliar “trabalhar no que se gosta” e “pagar as contas”. Nos tempo de hoje, percebemos muito o individualismo das pessoas, que acabam dando cotoveladas para fazer com que seu posicionamento impere em relação aos outros. Como escapar desta armadilha e praticar um “protagonismo positivo”? Clovis de Barros Filho – A ideia é que este protagonismo seja benéfico para o outro e possa ser garantidor de uma convivência melhor para todos. Sendo assim, todo protagonismo que busca trazer para o agente um benefício com prejuízo aos outros é um protagonismo negativo, que deve ser combatido e evitado. Como ser protagonista sem ser autoritário? Clovis – Basta que você, ao participar de um coletivo, você dê a palavra a todos e todos possam deliberar como querem conviver. Neste momento, tudo o que você fizer por aquele coletivo respeitará a vontade de todos. Você fala muito de se trabalhar no que se gosta. Mas muitas pessoas não conseguem conciliar o “ter prazer no trabalho” com “pagar as contas”. Como conciliar isso? Clovis – Diminua as contas a pagar. Aí, faça o que lhe dá prazer. Você está dizendo o seguinte: “você pode ter uma atividade que não é bem remunerada pela sociedade. Eu falo de cadeira, como sou professor, é um exemplo excelente. A sociedade não vê com bons olhos o professor, por isso paga mal o professor. Tirando dois ou três lugares do mundo, o professor é mal pago praticamente no mundo inteiro, diferentemente do que se costuma dizer. Se você acha que sua felicidade depende do exercício daquele ofício e ele é mal pago pela sociedade, você só tem duas saídas: ou você luta politicamente para que este ofício seja melhor remunerado ou você diminui as contas a pagar. Viva de maneira mais simples, de maneira compatível com a remuneração que seu ofício alegrador pode proporcionar. Foi o que eu fiz, eu trabalhava em Brasília, larguei um trabalho para ser professor. A minha renda, num primeiro momento, caiu dez vezes e, portanto, eu tive que adequar a minha vida às minhas novas condições financeiras. Eu fiz esta escolha porque achei que valia a pena. Não precisava comprar roupa de marca, de carro, morar num bairro X, não precisava de porra nenhuma. Mas não podia abrir mão de ser professor. Claro que depois as coisas mudaram e eu passei a ser melhor remunerado pelo meu ofício. Mas, para isso acontecer, levou mais de 20 anos. Passei 20 anos assumindo a escolha que eu fiz, que foi viver mais simplesmente, de maneira mais humilde e apostar no ofício que eu escolhi para mim. A internet tem uma influência muito grande na convivência entre as pessoas. Cada vez mais, as pessoas querem ser protagonistas, viram especialistas em Oriente Médio, mineração e assim por diante. Umberto Eco diz que a internet deu voz aos imbecis. Como o senhor avalia este “protagonismo cibernético”? Clóvis – A internet é só uma ferramenta, continua dependendo de vida inteligente que a use. Mesmo antes da internet muito imbecil falava. Justamente. Umberto Eco diz que, antes, a idiotice ficava restrita à mesa do mar. Hoje, ela ganhou uma escala mundial. Clovis – Sim, isso exige, da parte de quem interage, mais competência crítica para poder identificar os discursos de maior valor. A internet, de fato, democratizou a palavra, para o bem e para o mal. Por isso, exige mais competência para não se deixar afetar por tudo. O senhor escreveu um livro sobre ética, em co-autoria com Mário Sérgio Cortella. Lógico que não existe uma fórmula mágica que permita aperfeiçoar os conceitos éticos do povo de uma hora para outra. Mas por onde o senhor acha que a gente poderia começar a avançar nesse sentido, no Brasil? Clóvis – Através de uma formação escolar mais adequada é um caminho. Você deve ter estuado quatro anos de literatura, três de biologia, três que química, três de física, sete ou oito de matemática… mas quantos anos você estudou de ética? Por que você acha que deveria saber coisas sobre ética se isso não foi ensinado por ninguém? Aliás, vamos combinar, de química você não sabe grande coisa embora tenha estudado. De ética, menos ainda! Compartilhe
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