Por marcozero Compartilhe Compartilhe Experiências Como eu cheguei com vida ao aeroporto mais perigoso do mundo 1438 visualizações0 Não dava para ver absolutamente nada a mais de 20 metros da ponta do nariz. O helicóptero estava prestes a chegar em Lukla, aeroporto que as estatísticas de acidentes aéreos o colocam no topo do ranking dos mais perigosos do mundo. O barulho das hélices lá fora contrastavam com o silêncio ensurdecedor dentro da cabine. Segundo o Aviation Herald, site em inglês que publica relatórios de acidentes em voos civis em todo o mundo, desde sua inauguração, em 1964, foram 116 acidentes com perda de casco (quando a aeronave foi destruída), com 474 mortes. Já o Banco de Dados de Segurança da Aviação do governo do Nepal indica que desde 2000 foram 22 acidentes, com 14 mortes. Sem alternativaApesar dos riscos, o aeroporto de Lukla é a melhor opção de quem pretende ir até a Cordilheira do Himalaia, seja para atingir o cume do Monte Everest ou apenas chegar ao Acampamento Base. A opção ao voo até lá, partindo do Aeroporto de Katmandu (uma viagem de aproximadamente 45 minutos) é ir de carro ou ônibus da capital nepalesa até um povoado chamado Shivalaya, que fica a 1767 metros acima do nível do mar, e em seguida percorrer uma trilha a pé. Após um trekking com seis dias de duração, chega-se a Lukla, cidadela localizada a 2860 metros de altitude. Na verdade, é generosidade chamar Lukla de cidadela, trata-se de um aglomerado de construções ao redor do aeroporto, com hotéis, pousadas, restaurantes e residências de pessoas que vivem em função do aeroporto. Homenagem aos pioneiros O aeroporto de Lukla é denominado Tenzing-Hillary, em homenagem ao nepalês Tenzing Norgay e o britânico Edmund Hillary, os primeiros a chegar ao cume do Everest, em 1953. O aeroporto foi construído em 1964 pelo próprio Hillary, que adquiriu a área por US$ 2.650. Hoje, registra cerca de 60 pousos e decolagens por dia. Por ano, a indústria de trilhas e escaladas no Himalaia trazem US$ 300 milhões ao Nepal. Operação de alto risco. Do ponto de vista técnico, é extremamente arriscado aterrissar ou pousar em Lukla. O lugar reúne praticamente todas as condições desfavoráveis para a operação. Altitude- A baixa pressão atmosférica dificulta a pilotagem do avião. A densidade do ar é muito menor do que no nível do mar e isso afeta negativamente a quantidade de energia gerada pelos motores das aeronaves, reduzindo a sustentação. A resistência reduzida ao ar também torna mais desafiador desacelerar o avião. Em grandes altitudes, quanto maior a pista, melhor. Para facilitar a frenagem das aeronaves, a pista tem uma inclinação de 12 graus. Pista curta- Assim, a situação piora. A pista de Lukla tem 527 metros de extensão, menos da metade do tamanho da do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, que tem 1.323 metros. Para facilitar a desaceleração, a pista tem uma inclinação de 12 graus. Montanhas- A cabeceira da pista onde se concluem os pousos termina em um paredão montanhoso. Portanto, impossibilita qualquer tentativa de arremeter (quando o piloto desiste de pousar e decola novamente, após a aeronave tocar o chão). Assim que decola, o avião deve imediatamente realizar uma curva para a esquerda, caso contrário colidirá com uma montanha. Ventos- O aeroporto de Lukla fica numa espécie de vão entre duas montanhas, o que potencializa a força dos ventos, que podem mudar de direção e intensidade repentinamente. Baixa visibilidade- O normal no vale de Lukla é ter uma condição meteorológica imprevisível. Névoa repentina, neblina, tempestades ou até mesmo neve acontecem ser dar aviso. Apesar da curta distância de Katmandu (138 quilômetros), as condições do tempo podem ser completamente diferentes. O avião decola com tempo extremamente aberto na capital nepalesa e pode encontrar forte cerração em Lukla. Era essa a situação em que eu me encontrava. A bordo do helicóptero vermelho, do lado esquerdo do piloto, eu tentava ver alguma coisa abaixo ou à frente. Tensão desde o inícioAquele dia tinha começado bem cedo para mim. Aliás, iniciou emendado no anterior, pois não consegui dormir diante da expectativa de iniciar uma das jornadas que prometia ser a mais desafiadora de minha vida. O pacote oferecido pela excelente Himalayan Glacier, uma das melhores operadoras de turismo de aventura do Nepal, se iniciava com uma noite no luxuoso hotel Shanker, onde, logo nas primeiras horas da manhã, uma guia da empresa me buscaria para irmos ao Aeroporto de Katmandu. Evidente que não consegui dormir. Às 4h, uma hora antes do horário combinado, eu já estava no saguão do hotel à espera do guia. O simpático Gyanendra Khadka chegou com pontualidade britânica. Após o transfer em um Hilux (algo muito comum em Katmandu), chegamos ao aeroporto ainda na escuridão, mas repleto de movimento. Em troca de trocados, dois nepaleses disputaram para carregar minha mochila. O Aeroporto Internacional de Katmandu parecia mais uma rodoviária de cidade do interior, de tão pequena e rústica. Na parte externa, passageiros e carregadores disputavam espaço com agressivos macacos, que se aproximavam ameaçadoramente em busca de algum alimento. Perguntei a Gyanendra qual o horário de nosso voo. Ele sorriu e apenas disse; “Wait”. E foi o que mais fiz durante cerca de duas horas. Por um momento, imaginei ter me metido em uma roubada (“essa operadora não tem passagens”, pensei), mas a verdade é que os voos simplesmente não saíam por conta das condições meteorológicas em Lukla. De 15 em 15 minutos, Gyanendra falava ao telefone, rápido, naquele idioma completamente ininteligível. Era por volta de 8h quando o guia me informou que iríamos de helicóptero. Perguntei se precisaria pagar algo a mais e ele me tranquilizou. Era um Plano B, que depois se revelou melhor que o próprio Plano A. A neblina em Lukla havia provocado o atraso ou mesmo cancelamento de muitos voos e a Himalayan Glacier havia conseguido um upgrade, mais seguro, e sem custo adicional. Entramos em um carro (mais uma Hilux), com mais quatro pessoas e um motorista, e pegamos uma estrada de serviço dentro do próprio aeroporto. Após andar cerca de cinco quilômetros, chegamos a uma área onde havia um galpão e, ao redor, o esqueleto de diversas aeronaves – aviões e helicópteros. Em um hangar rústico, cada um assinou a lista de passageiros e ficamos aguardando. Cerca de 15 minutos depois, pousa um helicóptero vermelho. Rapidamente, nossa bagagem é embarcada e nos acomodamos na cabine. Sentei no banco dianteiro, à esquerda do piloto. Gyanendra sentou atrás, ao lado de um rapaz britânico e uma moça americanos. A aeronave levantou voo rapidamente e em instantes estávamos sobrevoando a capital nepalesa, que mais parecia um grande acampamento de construções pouco verticais, parcialmente oculta por uma névoa formada pela mistura de poeira e poluição. Em poucos minutos, já estávamos sobre áreas rurais, com plantações em sistema de terraços e muita mata nativa. Mais alguns instantes, a visibilidade tornou-se quase nula. O piloto, Ashish Sherchan, permaneceu sereno, atento aos instrumentos e à situação fora da cabine. Só depois, em Nanche Bazaar, soube que ele era um dos pilotos mais respeitados do Himalaia —tinha mais de 7.000 horas de voo. Cerca de 40 minutos depois, subitamente, em meio ao nevoeiro, apareceu a cabeceira da pista de Lukla. O helicóptero sobrevoou toda a sua extensão e suavemente aterrissou em um platô, bem ao lado da carcaça de um avião sem asas. Sherchan percebeu minha fisionomia de alívio e sorriu. Eu, pateticamente, estendi a mão para ele e pedi um “High five”. Ele retribuiu o gesto e deu uma piscadinha, sinalizando que a viagem havia sido concluída. Um funcionário de terra abriu a porta da aeronave e deu as boas-vindas:— Namastê! Coincidência Pousei em Lukla em dia 15 de abril de 2013. No dia 23 de setembro do mesmo ano, um helicóptero, vermelho como o meu, caiu no mesmo lugar ao tentar pousar —os quatro ocupantes, todos nepaleses, escaparam com vida. Se era o mesmo helicóptero que havia me transportado, a essa altura do campeonato, não faz a menor diferença… Compartilhe
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