Por marcozero Compartilhe Compartilhe Perfil Papai Noel abre o jogo 1197 visualizações0 O bom velhinho existe, sim, mas sua situação hoje é bem mais complexa do que a de anos atrás. O Papai Noel do século 21 tem muito mais preocupações. Em um mundo cada vez mais cético e crítico, não é possível escapar de questionamentos ácidos, especialmente tratando-se de uma figura famosa e popular. Manter a boa imagem, que conseguiu cultivar por tantos e tantos anos, agora é um desafio dos grandes. Muitas dúvidas sobre Noel sempre ficaram mal explicadas, mas nos últimos anos o questionamento cresceu. Confira nesta “entrevista exclusiva”: O que o senhor tem a dizer sobre as denúncias de que contratou duendes bolivianos e vietnamitas e está submetendo-os a condições análogas a trabalho escravo, depois da greve dos duentes da Lapônia? Papai Noel – Isso não é verdade. Todos conhecem minha trajetória de amor e fraternidade. Nunca faria uma coisa dessas. Este tipo de calúnia é coisa das fábricas chinesas, que, além de fazer produtos de má qualidade, não conseguem competir com os meus brinquedos. É lógico que eu precisei procurar mão de obra mais barata, diante das imposições absurdas dos sindicatos dos trabalhadores laponeses. Falaram a mesma coisa da Nike e nunca provaram nada. E como o senhor vai fazer com a logística da distribuição de presentes na noite de Natal, depois que a Sociedade Protetora dos Animais conseguiu, na Justiça, proibir o uso das renas em seu trenó? Papai Noel – Infelizmente, isso realmente ocorreu. Estes ativistas radicais fizeram o juiz incorrer em erro. Eu já acionei meu departamento jurídico, mas lamentavelmente não vou reverter a decisão antes do Natal. Sempre tratei muito bem minhas renas, que trato pelo nome, para dizer o mínimo. E nunca coloquei nada alucinógeno na ração delas para que voassem, como dizem estes defensores de animais. De todo modo, encontrei uma solução para não deixar de entregar os presentes. Fiz um contrato emergencial com uma empresa de transporte aéreo e vou usar uma frota de jatinhos e helicópteros. Vai dar certo. E como o senhor vai fazer para compensar o dano ambiental por conta da queima de combustível por essa frota? O senhor tem créditos de carbono para negociar? Papai Noel – Puxa… Bem… Sinceramente, não pensei nesta questão… Há informações sobre seu envolvimento com o mercado financeiro de Wall Street, que insinuam que esse negócio de distribuir presentes seria na verdade uma maneira de lavar dinheiro… Papai Noel – Mentira! Mentira! Todos sabem que meu único objetivo é a solidariedade. A fundação que mantenho teve apenas alguns pequenos problemas de ordem burocrática. Cometemos o erro de contratar o mesmo consultor da Fundação José Sarney. Ele não tinha muita experiência, mas de modo algum houve má fé. E também quero deixar claro que não intermediei nenhuma venda de jogador de futebol. A única coisa que fiz foi enviar cópias das cartinhas que alguns deles me escreveram quando eram pequenos, dizendo que eram bons meninos na infância. Quem fizer acusações vai ter que provar! Calma, Papai Noel! As perguntas podem ser um pouco incômodas, mas as pessoas precisam saber… Papai Noel – Olha, meu filho, me desculpe, mas já estou farto de tantos ataques. Na Inglaterra, são aqueles tabloides sensacionalistas. Nos Estados Unidos, redes de TV me perseguem. No Brasil sou difamado por aqueles programas vespertinos. Já chegaram até a lançar dúvidas graves sobre minha proximidade com as criancinhas. É o fim da picada! Mas, Papai Noel, de onde vem o dinheiro para bancar toda essa festa com presentes? Papai Noel – Da minha fundação, que recebe muitas doações. Do Bill Gates, por exemplo. Há diversos outros, mas eles não me autorizam a divulgar seus nomes. Tem até brasileiros. Além disso, eu soube aplicar meu dinheiro muito bem. Sou sócio de empresas de tecnologia e petrolíferas. Quem você acha que teve a ideia de procurar petróleo no Oriente Médio? Fiz isso durante umas férias que passei lá, estava farto do frio do Polo Norte e fui pegar um calorzinho. Também tenho investimentos no Brasil, em commodities agrícolas. Sempre que ia entregar presentes lá eu via todas aquelas terras e pensava nas oportunidades. Hoje tenho muita soja plantada. Tenho ações também de mineradoras. Só não imaginava que pudesse ocorrer essa crise econômica que quase me arruina. Ela vai deixar o Natal mais magrinho. A crise econômica mundial vai prejudicar o Natal? Papai Noel – Este ano, menos. O ano passado foi terrível! Tinha criança americana pedindo para eu pagar as hipotecas de seus pais. Mas a atividade econômica sofreu uma desaceleração e a produção também foi afetada, inclusive quebrou um monte de fábricas de brinquedos. Vamos mudar de assunto. Qual o presente mais pedido para este ano? Papai Noel- Meu filho, o que tem de criança pedindo videogame, celular… E tem também criança que pede só comida. Uma vez, um menino de oito anos de um país em guerra me pediu uma metralhadora AK-47. Ai, que saudades dos tempos em que me pediam apenas bonecas e carrinhos de madeira! Sinceramente, nem sei como vou fazer ainda. Para terminar, qual mensagem o senhor quer deixar? Papai Noel – Se fosse alguns anos atrás, eu ia dizer “Ho-ho-ho! Um Feliz Natal a todos!”. Mas peço apenas que acreditem que eu existo e que sou autêntico. Estou sofrendo processos por falsidade ideológica e isso me magoou muito. O duro é que estes senhores que hoje me acusam são os mesmos que deixavam sapatinhos na janela antigamente, quando eram crianças. O mundo hoje está muito complicado. Ser Papai Noel não anda nada fácil. * Este texto foi publicado originalmente no Jornal da Orla de 20/12/2009. Compartilhe
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