Vacina contra covid-19
Coronavírus

Tudo o que você precisa saber sobre as vacinas contra o novo coronavírus



No momento em que a única esperança para conter o avanço do coronavírus é a imunização em massa da população, o presidente Jair Bolsonaro joga mais mais gasolina da fogueira de medo e desconfiança que uma parcela significativa da população brasileira tem em relação às vacinas contra o Covi-19.

A desinformação é a principal aliada da pandemia — na quinta-feira (17), o número de mortes por dia voltou a ser maior que mil.

“Se você virar um chipanzé, se você virar um jacaré, é problema de você. Não vou falar outro bicho aqui para não falar besteira. Se você virar o Super Homem, se nascer barba em alguma mulher aí ou um homem começar a falar fino, eles (o laboratório) não têm nada a ver com isso”, disse, no seu estilo tosco de sempre, em discurso na baiana Porto Seguro, referindo-se à vacina da Pfizer/BioNTech. Em várias outras ocasiões , o presidente tentou desacreditar a vacina Sinovac/Instituto Butantan, chamando-a de “vachina”.

Fosse dada por um bêbado do boteco da esquina, as posições não teriam grande repercussão. Mas quando se trata do presidente da República, elas têm um efeito preocupante. Pesquisa Datafolha divulgada segunda-feira (14) revela que o número de pessoas que não querem tomar a vacina cresceu de 9% para 22%.

Existe uma parcela minúscula, mas barulhenta, da população mundial que prega uma cruzada global contra vacinas. Qualquer vacina. Portanto, não se trata de uma “discussão política”, mas do embate entre a ciência e o obscurantismo.

O QUE É VACINA

As vacinas são substâncias biológicas introduzidas nos corpos das pessoas a fim de protegê-las de doenças. elas ativam o sistema imunológico, “ensinando” nosso organismo a reconhecer e combater vírus e bactérias.

ORIGEM

A primeira notícia que se tem do uso de vacina remonta ao século 10, na… China. Para combater a varíola, se introduzia versões atenuadas no corpo das pessoas. Desde então a Medicina Chinesa desenvolveu diversos imunizantes e antídotos para várias enfermidades.

Edward Jenner

DA VACA

O termo “vacina” só foi surgir em 1789, quando o inglês Edward Jenner ficou sabendo que agricultores que haviam contraído a varíola bovina, mais amena, não contraíam a varíola humana. A partir daí, desenvolveu estudos e chegou à criação da substância imunizante. A palavra “vacina” deriva de Variolae vaccinae, nome científico da varíola bovina.

SEGUNDA GERAÇÃO

Baseado nos princípios de Jenner, o francês Louis Pasteur desenvolveu substâncias imunizantes contra várias doenças e, em homenagem ao inglês, deu o nome de vacina.

Massimiliano Fedriga, ativista antivacina, quase morreu por não tomar vacina.

NA PRÓPRIA PELE

No ano passado, o italiano Massimiliano Fedriga, que liderava um movimento contra a obrigatoriedade das vacinas, ficou cinco dias internado entre a vida e morte, após ter contraído catapora —ele não tinha tomado a vacina contra a doença. Depois disso, sumiu.

PLANO NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO

O Brasil tem, ou tinha, o maior e plano de vacinação do planeta. São oferecidos gratuitamente 17 tipos de vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS),  para todas as faixas etárias. Por ano, são 400 milhões de doses, para combater mais de 20 doenças.

Vacina reduziu casos de tétano
Vacina reduziu casos de sarampo
Vacina reduziu casos de paralisia infantil

Desde que foi criado, em 1973, o PNI reduziu drasticamente o número de doentes. Na década de 1980, sarampo, poliomielite, rubéola, síndrome da rubéola congênita, meningite, tétano, coqueluche e difteria causaram 5,5 mil óbitos em crianças de até 5 anos no Brasil. Em 2009, foram 50 óbitos.

No entanto, o cenário é preocupante. O índice de cobertura vacinal vem caindo ano a ano. Exemplo clássico é a poliomielite, doença que quase foi erradicada do Brasil. Em 2005, 11 estados brasileiros tinham cobertura vacinal acima de 90%; e, 2015, eram apenas 5 estados.

Redução das vacinações preocupa

O RISCO DAS VACINAS

Quem já teve a curiosidade de ler a bula de qualquer remédio deve ter ficado impressionado com a quantidade de contra-indicações, possibilidades de efeitos colaterais e alertas. Ainda assim, os estudos clínicos indicam que o medicamento é considerado seguro e eficaz para a grande maioria das pessoas. Os alertas são para os casos excepcionais. Com vacina é a mesma coisa. As vacinas (qualquer uma) só são aprovadas após uma série de testes, avaliados por órgãos governamentais formados por técnicos, que inspecionam não só os dados científicos como também as instalações onde as vacinas são produzidas. Uma vacina só é aplicada na população se for comprovadamente segura (não tem efeitos colaterais sérios e eficaz (realmente cumpre o objetivo de evitar a doença).

AS VACINAS CONTRA COVID-19

Muita gente ficou desconfiada da rapidez com que as vacinas contra o novo coronavírus foram criadas — cerca de nove meses, quando tradicionalmente se levava até mais de uma década para desenvolver imunizantes contra outras doenças. A vacina contra Aids, por exemplo, ainda não foi criada. Os principais motivos são os cientistas interromperem outras pesquisas para se dedicaram exclusivamente ao covid-19, à disponibilidade de recursos financeiros (que permitiu adquirir equipamentos, contratar mais profissionais e acelerar processos) e o aproveitamento de técnicas que estavam sendo usadas em outros projetos de vacina.

O maior exemplo disso é o uso da tecnologia chamada “RNA mensageiro”.  A vacina introduz no organismo uma cópia de parte do código genético do vírus. É uma espécie de mensagem (daí o nome “mensageiro”), uma receita para o corpo produzir uma proteína do vírus. Ao perceber a presença desta proteína, identificando-a como uma ameaça, o organismo passa a produzir anticorpos contra o vírus.

Há outra razão para a pressa: quem chegar na frente nesta corrida fechará contratos bilionários. Segundo a Organização Mundial da Saúde, existem 321 estudos para a criação de uma vacina, 35 são considerados mais promissores e seis estão prontas: Coronav, Sputinik V, Moderna, Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford, Soberana01 (Cuba).

A “VACHINA”

O fanatismo político e razões eleitoreiras estimulam uma campanha de desinformação contra a Coronavac, por ela ter sido concebida por um laboratório chinês, o Sinovac. Uma insinuação, absolutamente ridícula, é a de que o governo chinês aproveitaria a vacina para “hackear” os brasileiros: “A vacina chinesa contém RNA replicavel digitalizável, ou seja, para controlar a humanidade através das ondas que vai emitir as antenas 5G”, diz uma Fake News disseminada pela internet. Um absurdo atrás de outro. Primeiro, porque a Coronavac não utiliza a tecnologia RNA (quem as usa são as da Moderna e a da Pfizer) e sim o vírus inativado (o método mais tradicional de se produzir uma vacina). Segundo, se a China pretende “hackear” os brasileiros, já teria feito isso há muito tempo, pois praticamente todos os insumos para as demais vacinas e diversos medicamentos são produzidos na China.

QUEM JÁ FICOU DOENTE TAMBÉM PRECISA SE VACINAR

O planos de imunização é dividido de modo a priorizar as pessoas sob mais risco:  profissionais da saúde (5 milhões) , indígenas (1 milhão), pessoas com mais de 80 anos (4,4 milhões) e 60 a 79 anos (25,7 milhões), portadores de morbidades (10,7 milhões), população carcerária (507 mil), motoristas de transporte coletivo (678 mil). O objetivo é imunizar a população gradativamente, em 16 meses meses após o início da vacinação. Quem já ficou doente também deverá ser imunizado, já há um caso de reinfecção confirmado e outros 58 suspeitos — a pessoa pode não apresentar sintomas mas é capaz de contaminar outras.

OBRIGATORIEDADE

Por unanimidade (11 a 0), o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu o óbvio: a vacinação de um país só é eficaz se for obrigatória, pois o interesse coletivo se sobrepõe ao capricho individual. Uma pessoa é vacinada não apenas para não ficar doente, mas, principalmente, impedir que ela contamine outros indivíduos.

Obrigar a pessoa a tomar vacina não significa pegá-la à força em casa e imunizá-la, mas sim estabelecer sanções como consequência do comportamento: impedir que ela frequente locais públicos, acesso a programas assistenciais como o Bolsa Família (apesar de ser um programa federal, são os municípios que gerenciam o cadastro), matrículas de crianças em escolas e creches etc.

No entanto, mais importante que um dispositivo legal é a conscientização da população. Fornecer informações para que ela perceba a necessidade de se vacinar, sem cair em papo de jacaré.

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