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Pelo Rio Amazonas, uma viagem ao Brasil profundo

Apesar de ser um admirável mundo novo, chega uma hora que viajar de barco pelo caudaloso Rio Amazonas torna-se algo enfadonho. A viagem é longa, o barco desconfortável, a comida a bordo ruim e a paisagem, após a surpresa inicial, torna-se monótona.

Paralela ao barco, a exuberante floresta tropical emoldurada pelo céu azul e o reflexo de si mesma no leito do gigantesco rio. Em alguns pontos, a margem fica tão longe que é difícil avistá-la. Árvores e mais árvores e, de tempos em tempos, aparece uma pequena moradia, sob palafitas ou entranhada na própria floresta.

De repente, à frente da embarcação, bem ao longe, começam a aparecer pequenos pontos no rio. O barco vai se aproximando, o número de pontos é bem maior do que se podia imaginar e eles começam a tomar formas bem definidas. São canoas. Ocupadas por crianças. Algumas que, se morassem numa cidade, estariam em um berço no colo de alguém.

Rio Amazonas, Brasil profundo

O barco chega bem perto das canoas. Como que ensaiados, os passageiros começam a jogar sacos plásticos no rio. As crianças remas freneticamente para resgatá-los. É comida. Os ocupantes do barco sabem que são pobres, mas também entendem que há famílias em situação mais falimentar ainda.

Rio Amazonas, Brasil profundo

“Tem que ajudar, né?”, resume dona Iolanda, que em outro instante da viagem já havia me relatado as dificuldades para sobreviver com uma dignidade.

Viajar de barco pelo Rio Amazonas é um mergulho no Brasil Profundo. E não se submerge dele igual.

Mais canoas

Horas mais adiante, a monotonia da viagem novamente é quebrada, desta vez por uma canoa solitária. “Mais do mesmo”, pensei.

A canoa se posta quase que frente à proa do barco de passageiros. Assim que as duas embarcações se emparelham, o menino que pilota a canoa lança uma espécie de gancho e fisga um dos pneus presos à lateral do grande barco. Pega uma corda e amarra a canoa à embarcação maior. “Parece um ataque pirata”, imaginei.

O menino de traços indígenas, a pele escura, curtida pelo sol, passa a vender frutas aos passageiros. Por unidade, dúzia, bacia… a preços irrisórios. Os passageiros o pagam com moedas e notas de pequeno valor.

Em pouco tempo, a grande cesta que momentos antes estava repleta de frutas está vazia. Tudo vendido, mas, para quem vive em um centro urbano e acostumado a preços mais altos, por uma ninharia.

Vendedor de frutas no Rio Amazonas
Vendedor de frutas no Rio Amazonas
Vendedor de frutas no Rio Amazonas
Vendedor de frutas no Rio Amazonas
Vendedor de frutas no Rio Amazonas
Vendedor de frutas no Rio Amazonas

Debruçado no parapeito do barco, ainda consigo fazer algumas perguntas ao menino. João. Passou a manhã inteira na floresta colhendo os frutos para vendê-las aos passageiros. Como tinha feito no dia anterior e faria no seguinte.

João é a regra ao longo do Rio Amazonas. Crianças que se lançam ao trabalho e aos riscos desta abordagem aos barcos de passageiros. Vendem frutas, camarão e até palmitos embalados em vidros. Meninos e meninas, retratos do Brasil que o Brasil não conhece.

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