Álvaro Dias, senador
Política

O senador que não fazia na vida privada o que pregava publicamente

Era fevereiro de 2018 quando o então senador Álvaro Dias peregrinava pelo país para divulgar sua disposição de ser candidato a presidente do Brasil. No dia 23, ele cumpriu ampla agenda em Santos, que incluiu participação no programa de TV em que trabalho.

Dias se sentiu à vontade para criticar a corrupção, a crise moral, a quantidade exagerada de partidos políticos… Álvaro Dias comportava-se como o paladino da moralidade, a solução mágica para todos os problemas da nação.

Na minha vez de perguntar, ponderei que, no Brasil, as pessoas votam menos nos partidos políticos e suas ideologias e mais na pessoa em si. E questionei em que medida comportamentos na vida pessoal poderiam influenciar o eleitor na decisão de seu voto: se o sujeito teve uma condenação na justiça, se teve um filho fora do casamento, exemplifiquei.

Um assessor de Dias que estava atrás das câmeras levou as mãos à cabeça. O senador fez um breve silêncio, respirou fundo e filosofou sobre a natureza da formação dos partidos políticos recorrendo a sensos comuns (“Hoje os partidos são siglas para registro de candidaturas”). Em seguida, falou que a questão ética seria fundamental na eleição. “O eleitor tem que vasculhar a vida dos candidatos”.

Faça o que eu digo…

Caso seguisse esta recomendação, o eleitor descobriria que Álvaro Dias foi condenado a pagar pensão alimentícia para uma filha que teve fora do casamento e, naquela época, respondia a processos por abandono afetivo.
Evidentemente, é humano fraquejar, ter uma relação extraconjugal e dela resultar um herdeiro. Mas considerei relevante fazer a pergunta, que resvalava na vida pessoal do senador, porque ele mesmo dizia que a moral e a ética pessoal deveriam ser consideradas pelo eleitor e, naquela época, Álvaro Dias fazia insinuações sobre uma suposta relação extraconjugal entre o ex-presidente Lula e a ex-secretária da Presidência da República, em São Paulo, Rosemary Noronha.

Ele ditou as regras e eu as segui.

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