Otávio Frias Filho
Perfil

O lado teatral do diretor de jornal

Responsável pelo mais influente jornal brasileiro, a trajetória de Otávio Frias Filho à frente da Folha de S. Paulo já é bem conhecida. Tem um jeito discreto, fala baixo, mas também é bom de briga. Na campanha eleitoral que elegeu Lula pela primeira vez, ele teve um desentendimento feio com o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Era um almoço na sede da Folha e Lula se retirou incomodado com os questionamentos de Otavinho, como era conhecido Frias Filho. Sob seu comando, o jornal fez muitas denúncias e provocou polêmicas.

O que provavelmente poucos conheçam é a atuação de Frias Filho no teatro. Autor de peças como “O terceiro sinal” e “Tutankaton”, ele esteve em Santos em 2011, para participar do projeto “Diálogos em cenas”, profissionais do teatro se reúnem com alunos da Escola de Artes Cênicas Wilson Geraldo, da Secretaria de Cultura de Santos, e interessados em produção teatral.

Otávio Frias Filho deu uma rápida entrevista, na qual falou sobre produção teatral e jornalismo.

Otávio Frias Filho (Foto: Mari Santana)

No livro “Queda livre” você relata uma série de experiências bem diferentes que teve: um salto de pára-quedas, uma viagem de submarino, atendente do CVV. Em uma delas você é um ator, interpretando um repórter numa peça de teatro. Parece que o livro se motivou por essa sua participação como ator e as outras interpretações vieram depois, como se você estivesse atuando em diversos papéis. É isso?

Otávio Frias Filho– Na verdade, está tudo interligado. Eu fiz o papel do repórter na peça. Era a metáfora da metáfora, fiz o papel do repórter, com toda a minha vivência no jornalismo. Então eu fiz este papel umas três semanas só. Foi a matéria-prima para eu escrever este ensaio… A rigor, era sobre o Teatro Oficina, uma montagem que o Teatro Oficina fez para o “Boca de ouro”, de Nelson Rodrigues. O texto extravasa bastante isso e acabou um ensaio sobre o teatro, mais especificamente sobre o ator, a condição do ator, a psicologia do ator.

Alguns escritores dizem que este ímpeto para produzir um livro, um texto, é quase uma necessidade de a pessoa exteriorizar o que está sentindo e pensando. Com o teatro também acontece isso? É uma necessidade sua de você colocar para fora isso?

Frias Filho- Não sei bem se é uma necessidade. Minha ligação com o teatro não é uma ligação profissional. O teatro exige uma vocação, uma coisa que eu não tenho. Eu me considero mais um observador, um apaixonado, alguém que escreveu para o teatro sobre o teatro. Mas eu não entrei nesse domínio, que é o domínio do profissional.

Você consegue fazer um paralelo entre sua atuação como diretor de redação de um jornal importante e o teatro? Você encontra situações em sua vida profissional que têm a ver com o teatro?

Frias Filho- Só no sentido de produção, produção e direção de teatro, acho que tem alguma semelhança. No resto, são coisas bem diferentes.

Agora falando sobre o seu lado jornalista. Quais os principais desafios do jornal impresso diário frente às novas mídias, a internet, as redes sociais?

Frias Filho- Acho que todas estas formas de jornalismo, de comunicação, até se complementam. Não há limite para o crescimento e a coexistências das diversas formas. E o jornal, por outro lado, não se define por sua condição de impresso. Ele se define pela vocação de ser um veículo que publica tudo o que aconteceu de relevante nas últimas 24 horas. Então, se essa publicação ocorre na forma em papiro, ou papel ou na tela de computador, do ponto de vista estritamente do jornalismo, isso me parece menos relevante. Mas acho que vai haver complementariedade, esses meios todos vão coexistir e se multiplicar. Está havendo um crescimento muito grande no nível de informação nos últimos 20 anos.

E aquele agora já velho debate: o jornal impresso está fadado ao esquecimento ou ele sempre vai ter o seu espaço?

Frias Filho- Se o impresso vai desaparecer ou não, eu não sei responder. Acho difícil alguém que saiba responder. Mas um veículo que procura dar conta das curiosidades gerais de todo ser humano alfabetizado e que circula com a periodicidade diária, acho que esse veículo vai continuar existindo. No computador, ou em outros aparelhos que venham a surgir. Acho que a oposição não é propriamente entre jornal impresso e internet mas entre jornalismo que tenha essas características de suposto compromisso com a qualidade, essa regularidade diária, uma organização profissional do jornalismo, em contraposição a outras formas de jornalismo.

Como você analisa a relação da imprensa com o poder, não só o poder público, mas o poder econômico, empresarial?

Frias Filho- Acho que quanto mais atrito houver entre imprensa e poder, melhor sinal será, no sentido de que a imprensa está cumprindo o seu papel, no sentido de que um ambiente democrático propicia que haja este atritamento entre imprensa e poder. Acho que a imprensa é, ou deveria ser, se espera que em alguma medida ela seja, um desses mecanismos de fiscalização do poder. Não sei se ela exerce isso da melhor forma possível. Acho que a imprensa comete muitos erros, muitas falhas. Em tese, uma imprensa independente deve ser uma imprensa que, com alguma freqüência, tem algum tipo de atritamento.

E essa experiência, com os alunos de teatro no Teatro Guarany?

Frias Filho- Vamos conversar. Estou gostando de conhecer o teatro, não conheci depois de reforma, também não conhecia anteriormente. Sei que é um teatro muito famoso, faz parte da história de Santos. Sei que Santos tem um papel importante na história do teatro do Brasil. Estava lembrando agora pouco do Plínio Marcos, Miroel Silveira, grandes atores que nasceram aqui, a própria Cacilda Becker morou em Santos. Estou gostando de conhecer o ambiente, a escola. Estão de parabéns!

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