debate Dilma X Aecio
Clima tenso e troca de ofensas marcaram debate entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, no segundo turno de 2014
Política

O debate presidencial por trás das câmeras de TV

Quem viu o debate entre Dilma e Aécio, no segundo turno de 2014, certamente se impressionou com a violência da troca de palavras

O tempo seco e a temperatura batendo nos 38 graus pareciam ser um prenúncio do que aconteceria nos estúdios do SBT, às margens da Rodovia Anhanguera, em Osasco. Quem viu o debate entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), na quinta-feira (16), certamente se impressionou com a violência da troca de palavras. Mas o clima de Fla-Flu não se limitou ao cenário montado na emissora de Sílvio Santos: estava presente na plateia do evento e contaminou jornalistas credenciados para a cobertura e funcionários da TV.

Boca livre

O SBT montou um grande esquema para sediar o debate. Foram credenciados cerca de 150 jornalistas para acompanharem o evento. Um espaço próximo ao estúdio onde costumam ser gravados programas como “Domingo Legal” e “A Praça é nossa” foi transformado numa espécie de lounge, com bancadas, poltronas e mesinhas para os jornalistas acompanharem o debate, exibido em um telão.

À disposição, um buffet de petiscos: canapés de variados patês, torradinhas, queijos cammerbert, gorgonzola e prato, bruschetas de tomate, terrines de tomate seco ou peito de peru com mostarda, mousses de chocolate ou maracujá, sucos de abacaxi ou frutas vermelhas.

Corpo a corpo

Neste espaço, jornalistas se acotovelavam para entrevistar lideranças das duas campanhas. “Nas nossas pesquisas, a gente está ligeiramente à frente”, garantia Rui Falcão, coordenador da candidatura de Dilma Roussef. “Elas mostram que a gente tem mais possibilidade de conseguir os votos dos indecisos do que o adversário”.

Perto dele, o coordenador da campanha de Marina Silva tentou explicar as razões de não apoiar a candidatura de PT com uma comparação curiosa:

-Vocês já viram alguém usando crack? É inacreditável! Eu passei um tempo na cracolândia. O indivíduo perde a capacidade de raciocínio. Acho que o PT perdeu esta capacidade. Depois de um tempo, o poder intoxica, como o dinheiro intoxica, a libido intoxica. Precisa tomar cuidado com os excessos. Acho que o PT está intoxicado. Só dei um exemplo, porque o excesso de drogas, de poder, de sexo, deve ser cuidado. É perigoso. Você não percebe que está  intoxicado.

Um jornalista quis entender direito:

– Quando o senhor citou o crack eu presumi que o nível de compulsão do PT é similar ao de um usuário de crack.

– Eu quis fazer um paralelo, com muito cuidado para não extrapolar. O indivíduo que usa droga não acha que está drogado, não acha que está viciado. Ele acha que para no momento que ele quiser. Eu acho que vai ser bom para o próprio PT se recuperar. Tem muita gente do PT que acha isso também. Ele precisa retomar aquele vigor do passado, o papel questionador. Imagina: com o nível de corrupção na Petrobras, se o PT estivesse na oposição, o país estava pegando fogo.

Espera inútil

Uma hora antes do início do debate, fotógrafos e cinegrafistas formaram uma imensa fila na porta do Estúdio 1 (que leva o nome de Hebe Camargo). Pelo script divulgado pelos organizadores, seria possível captar imagens dos candidatos durante 15 minutos.

Enquanto aguardavam, o telão exibia mais um capítulo da novela mexicana “A feia mais bela”. O tempo passou, o acesso não foi liberado e, cinco minutos antes do começo do programa, uma funcionário do SBT avisou:

-Pessoal! A candidata chegou em cima da hora, não vai dar tempo de fazer imagens agora. Mas vamos abrir o primeiro intervalo para vocês. Serão apenas três minutos.

Torcida

Iniciado o debate, chamou a atenção dos jornalistas a agressividade dos candidatos, que foi se acentuando. O clima contaminou os repórteres e funcionários do SBT e o lounge virou uma arquibancada de estádio de futebol. Muitos não se contiveram e vibravam a cada farpa desferida pelo candidato de sua preferência.

Dentro do estúdio, o clima era tenso. Dividida em duas, a plateia formada por convidados de cada candidatura também vibrava com os ataques. Na primeira fileira, os pesos pesados de cada campanha. Numa ala, figuras como o governador Geraldo Alckmin e o senador eleito José Serra; do outro, o ministro Aloizio Mercadante e o marqueteiro João Santana, entre outros.

Conforme o embate ia se desenrolando, a empolgação dos espectadores crescia e o que eram pequenos resmungos se transformaram em vaias ou aplausos. Ao ponto de o mediador, Carlos Nascimento, interromper os trabalhos para passar o maior sabão:

– Peço que a plateia não se manifeste. Primeiro, em respeito aos candidatos. Em segundo, em respeito aos telespectadores. Nós estamos em um debate de candidatos a presidente da República, e não em um programa de auditório.

A bronca funcionou e os espectadores limitaram se a cochichar entre si.

Um olho no gato, outro na frigideira

Na penúltima fileira da plateia, um executivo do SBT acompanhava, por um aplicativo em seu smartphone, o comportamento dos índices de audiência. “Dez pontos de média, pico de doze pontos”, comemorava.

Fim da luta

Ao fim do debate, assessores praticamente invadiram o cenário, enquanto o mediador ainda encerrava a transmissão.  Em seguida, Dilma Rousseff levantou-se para conceder uma entrevista ao vivo para fazer sua avaliação sobre o debate. Pálida, ela perdeu o fio da meada no meio da resposta e pediu à jornalista para começar a responder desde o início.

– Nós estamos ao vivo – alertou a repórter.

Dilma tentou retomar o raciocínio, mas, visivelmente debilitada, interrompeu:

– Eu estou passando mal. A minha pressão caiu.

Um gaiato que acompanhava tudo gritou:

– Senta na cadeira, presidente!

Dilma sentou-se e pediu água. Pálida e suando frio, pediu “alguma coisa doce”. Depois, explicou que não havia se alimentado adequadamente antes do debate. Fazia muito calor no cenário do debate, o que certamente contribuiu para a indisposição da presidente.

No outro córner, Aécio, excitado, comemorava com os assessores  o que considerava ter sido sua vitória. “Política é algo digno, não é esse vale-tudo irresponsável, quase criminoso, que o Goebbels da candidata patrocina. Vou combater todas as mentiras”, dizia a jornalistas que o cercavam.

O movimento sobre o cenário, que tinha um piso de placas de acrílico transparente, aumentou. Além dos assessores, diversas pessoas subiram para cumprimentar os candidatos e, evidentemente, tirar as obrigatórias “selfies”.  O piso começou a estralar e os seguranças gritaram:

– Por favor, desçam! Se não vai cair tudo!

Aos poucos, o estúdio foi se esvaziando e os presentes seguindo os seus destinos. Uns de carro, outros de helicóptero. Na saída do estacionamento, um homem vestido de palhaço segurava uma placa, onde se lia: PT não presta. PSDB não presta. Marina não presta. Políticos (sic) não presta.

Fim do show.

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