Santos

Gol de placa, exposição sobre Pepe fica no Museu Pelé até 2026

O coração santista, feito estádio em dia de final, bateu mais forte naquela noite de sexta, quando as sombras já se alongavam pelos casarões antigos do Centro da Cidade. Não era bola rolando, nem grito de gol, mas a vida de Pepe, o Canhão da Vila, escancarada em cores e memórias no Museu do Rei Pelé. Emoção que vinha de longe, que nem cheiro de maresia em dia de sol.

Parentes, amigos chegados, autoridades normalmente com semblantes sérios mas alegres na ocasião, e um tanto de gente miúda, todos ali para ver a história do Zé Macia, 90 anos bem rodados, feito bola que viajou o mundo. Até um recado do homem manda-chuva da Fifa chegou, voz de longe parabenizando o craque, arrepiando a pele dos presentes.

A mostra, um retrato do “Canhão”, aquele que botou a bola pra dormir mais de quatrocentas vezes com a camisa alvinegra – só atrás do Rei, que, ah, esse era de outro planeta, como o próprio Pepe brincou, com um riso meio saudoso –, abriu as portas no sábado, feito flor que desabrocha depois da chuva. E ali ficará, contando seus causos, até o ano de dois mil e vinte e seis, abril ainda longe.

“Alegria grande”, disse o Pepe, a voz embargando um pouco, que nem rio quando encontra a barra. “Ver o coração de vocês batendo junto com o meu… Família, amigos, santista de quatro costados e até quem torce pra outro time, tudo junto. Do Pelé a gente sempre fala. Foi-se, mas ficou no coração da gente, feito marca de fogo. Eterno, o homem. Eu brincava, dizia que era o artilheiro maior do Santos. Aí vinham: ‘Mas o Pelé fez mais de mil!’ E eu respondia: ‘Ah, ele não conta, não. Ele é de Saturno! É o Rei, uai!’”

O arquiteto Ney Caldatto e a Gisa, filha do Pepe, cuidaram de ajuntar as coisas, os objetos que guardam cheiro de passado, os depoimentos que aquecem a alma, os registros em preto e branco que contam uma vida dedicada à bola. Tudo ali pra mostrar a importância do Canhão pra história do futebol e pra alma dessa cidade beira-mar.

Na cerimônia, os olhos passeavam pelas fotos, pelos troféus que brilhavam feito vaga-lumes na noite. E a gente quase podia ouvir o estrondo daquela perna esquerda, um raio caindo na bola, mandando ela pra rede a mais de cem por hora. Chute que ficou na memória do povo, feito cantiga antiga.

O prefeito Rogério Santos falou com a voz cheia, lembrando dos tempos de menino, das ceias de Natal com o pai contando as proezas daquele time do Santos, um time de lenda. “Impossível não se emocionar”, disse ele. “Viajar o mundo e ouvir falar do Santos com tanto respeito… Estive lá em Gênova, na Itália, e os moradores contavam, com orgulho, do dia em que o Santos passou por lá e fez oito a um. Essa exposição não é só a história de um ídolo, é um pedaço da identidade da nossa Santos.”

E a história do Pepe é feita de títulos que nem constelações no céu: seis Brasileiros, duas Libertadores, dois Mundiais. E com a camisa amarela, dois mundiais no peito, quarenta jogos, vinte e sete gols. Um craque de lei.

Edinho, o filho do Rei, também falou, a voz carregada de gratidão. “Pra nós, santistas, ele é um deus do futebol, sem dúvida. Difícil botar em palavras o que a gente sente hoje. O Santos é família. Quem torce, quem joga, quem vive aqui, sabe disso. É a história que eles escreveram juntos. Sou grato demais ao senhor Pepe. Foi ele quem me deu a primeira chance no time de cima.”

A Secretaria de Turismo, junto com o pessoal do Museu Pelé, que se esmerou na organização, botou de pé essa homenagem. Thiago Papa, o secretário, falou do trabalho danado, desde o começo do ano, pra entregar essa exposição, um pedacinho do reconhecimento por tudo que o Pepe representa pra cidade e pro Brasil inteiro.

Quem quiser ver de perto essa história, é só chegar no Largo Marquês de Monte Alegre, ali no Valongo. De terça a domingo, a visita é de graça, feito abraço de amigo. E pra saber mais, tem o site e o Instagram do Museu Pelé, pra matar a curiosidade. A vida do Canhão, agora feita memória viva, esperando a visita do povo.

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