degustar cerveja
Gastronomia

Como apreciar a cerveja

Após erguer a taça e examinar a cor da bebida, a sommelier sente o aroma e em seguida saboreia. Ela relata as sensações que experimentou, a doçura, o amargor, a acidez e o salgado do líquido. Um ritual tão difundido pelos amantes do vinho também é seguido pelos apreciadores de cervejas, que, embora seja bastante comum em outros países, ainda engatinha no Brasil.

E é com o objetivo de cativar mais adeptos do consumo de cervejas especiais que a beer sommelier Cilene Saorin percorre bares e restaurantes, para que os brasileiros tenham outros prazerem com a bebida fermentada preparada a base de grãos, além da simples refrescância.

“Hoje, não há sofisticação no consumo de cerveja. As pessoas não estão preocupadas em perceber a qualidade da bebida. É preciso sair do trivial “loira gelada”. A degustação parte da premissa do cuidado, de aguçar a sensibilidade. Pode ser de cerveja, de vinho, café, queijo… As pessoas têm pouco hábito de degustar o que estão comendo e bebendo, e de verbalizar o que estão provando. A sensibilidade vem de exercício”, argumenta.

Cilene Saorin explica que a variedade de sabores e aromas é infinita: há cerveja com sabor de banana, outra com gosto de maçã verde, sem que não tenha se acrescentado estas frutas na produção da bebida. É resultado da combinação de leveduras e tipos de cereais, principalmente cevada, que permite estes resultados. “Essa diversidade nos permite ter grandes experiências tanto complementando quanto contrastando com os sabores da comida. A cerveja certa melhora o sabor do seu prato”, completa. Assim, há cervejas ideais para se beber comendo peixes, ostras, massas, churrasco e até doces.

Há ainda cervejas muito parecidas com espumantes (inclusive se apresenta em garrafa do mesmo formato à de um champanhe e inclusive com rolha). Ou ainda uma cerveja licorosa e doce, muito similar a um licor.

As cervejas que se parecem com um espumante são produzidas com o método champenoise, o mesmo usado nos champanhes. A bebida passa por duas fermentações, uma nos tonéis industriais e outra na própria garrafa, que sofre o processo de remuage (é girada 45 graus duas vezes ao dia).
Outra cerveja, de cor escura e teor alcoólico de 30,47%, tem sabor suave, com sabor que lembra chocolate, café a baunilha. É considerada ideal para aperitivo e acompanhar sobremesas.

Questão de hábito

Para Cilene Saorin, é uma questão de tempo o brasileiro adotar o hábito de apreciar cervejas especiais, bebendo com moderação, dando prioridade à qualidade e não à quantidade. “Com o vinho foi a mesma coisa, há 15 anos o consumidor de vinho não era tão informado e exigente”.

Segundo ela, a bebida pode acompanhar qualquer tipo de prato. “Existe sempre uma cerveja para harmonizar com cada tipo de comida. É mais fácil harmonizar um queijo com uma cerveja do que com um vinho”, garante. “Cervejas são versáteis e diversas em estilo, sabor, aroma, corpo, cor, amargor, acides e teor alcoólico, entre outras características”.

A sommelier explica que existem mais de 120 tipos de cerveja, divididos em Velho Mundo e Novo Mundo. Do Velho Mundo, destacam-se Alemanha, República Tcheca e Bélgica, além da Inglaterra, Escócia, Irlanda e Dinamarca. “Os produtores são ortodoxos, seguem à risca as tradições no preparo da bebida.

O conservadorismo que Cilene se refere significa seguir à risca a Lei da Pureza (Reinheitsgebot), sentenciada em 1516 por Guilherme IV, o duque da Bavária, segundo a qual os únicos ingredientes usados para fabricação da cerveja devem ser malte de cevada, lúpulo e água. “Qualquer um que negligenciar, desrespeitar ou transgredir estas determinações será punido pelas autoridades da corte, que confiscarão tais barris de cerveja, sem falha”, manda a lei.

Já os produtores do Novo Mundo permitem “licenças poéticas” no preparo da bebida, inclusive introduzindo outros grãos, como café. Deste grupo, destacam-se produtores dos EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Brasil. No Brasil, as cervejarias mais conceituadas estão localizadas em Blumenau, Porto Alegre, São Paulo e arredores e Belo Horizonte.

Lei Seca

A beer sommelier considera positiva a Lei Seca, “porque, além de ajudar a reduzir o número de acidentes, vai estimular que se tenha prazer com a bebida não só pelo volume, mas pela qualidade”.

Apesar do grande número de acidentes de trânsito associado ao consumo de bebida, o Brasil não está entre os maiores países consumidores de cerveja. No Brasil, o índice de consumo é de 56 litros de cerveja por pessoa, por ano. A República Tcheca tem o maior do mundo, 168 litros por pessoa, por ano.

Segundo ela, as indústrias cervejeiras brasileiras estão de olho agora na China, pelo tamanho do mercado consumidor em potencial. “Hoje, o consumo é de 23 litros por pessoa por ano. Se aumentar em um litro por pessoa, significa ter uma fábrica de cerveja a mais por ano”.

História

Os primeiros registros da existência de cerveja remetem há 9 mil anos, entre os egípcios. A história da cerveja segue paralela à do vinho. A rigor, vinho é uma bebida obtida pela fermentação de frutas, inclusive uva. Cerveja é uma bebida obtida pela fermentação de grãos (trigo, centeio, cevada, aveia…)

Copo

Cada estilo de cerveja é melhor percebido em tipos específicos de copos. As características do copo (curvatura, espessura, altura) ajudam a perceber melhor suas propriedades.

Sensações

Visão- o brilho e a espuma

Gosto- doçura, amargor, acidez e salgado.

Tato- existem sensações que se percebem na boca, pelo tato, através da efervescência, devido à ação do gás carbônico.

Amargor- O ser humano está condicionado a sentir repulsa por produtos amargos, porque instintivamente, associa-o a veneno. Mas apreciar o amargor é um puro hábito de consumo.

“Cerveja dá barriga”

“Evidente que é um mito, eu sou a prova disso”, diz Cilene. “O problema é o que se come com a cerveja. Ninguém pede uma saladinha para acompanhar a cerveja, mas bolinho de bacalhau, pastéis, batatas fritas… Aí, depois, a grande culpada é a cerveja”.

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