Política

A crise Rússia-Ucrânia e a fábula do elefante

Como todos os outros assuntos palpitantes, esta crise entre Rússia e Ucrânia convocou os palpiteiros de plantão a compartilharem suas análises. De novo, ganhamos um exército de especialistas.  Dos tiozões do zap aos militantes radicais (esquerdopatas e fundamentalistas de direita), passando pelos comentaristas televisivos, todos tinha suas certezas.

Alguns simplesmente foram patéticos, como o jornalista Jorge Pontual (sim, aquele que se notabilizou por imitar Chewbacca numa tentativa de ser um “descolado engraçadinho”), que se prontificou a defecar regras para contestar a análise de Rodrigo Inhaez, historiador brasileiro que mora em Moscou há 11 anos, especialista em cultura e política russa (que mora na Rússia).

Outros tentavam construir suas análises baseados em “fatos alternativos”, episódios desconexos entre si, descontextualizações, meias-verdades etc apenasmente, como diria Odorico Paraguaçu, para consolidar suas convicções.

A treta entre Rússia e Ucrânia é complexa, histórica e de difícil solução. Cada parte envolvida (e não apenas estes dois países, mas também Estados Unidos, Alemanha, China, França…) tem seus argumentos.

Para defender uma ou outra posição, vão citar aspectos históricos, políticos, culturais e econômicos. Alguns pura verdade, outros nem tanto assim e a grande maioria uma visão caolha da realidade. OTAN, Pacto de Varsóvia, Acordo de Minski, separatistas, nacionalistas, gás natural… um verdadeiro estica-e-puxa argumentativo.

O episódio lembra a parábola indiana que relata o encontro de sete cegos com um elefante. Cada um apalpou uma parte do corpo do animal e tirou suas conclusões. Um abraços as pernas e disse que um elefante era igual uma árvore; outro apalpou o dorso e considerou que um elefante era com uma pedra; outro segurou o rabo e disse que um elefante era um tipo de minhoca; outro segurou a tromba e garantiu que um elefante era como uma grande serpente; e um outro pegou as orelhas e concluiu que um elefante era uma planta com folhas grandes, finas e largas.

Como bom palpiteiro de assuntos aleatórios e especialista em generalidades que sou, eu arrisco a minha certeza: a crise é um filme que não tem mocinho.

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